domingo, 23 de junho de 2013

Quadro negro

Um outro belo dia, para o mundo talvez, sua cabeça gira e busca explicações e respostas, afinal você é um ser humano e como tal, sempre busca respostas. Está caminhando pelo centro da cidade, é apenas mais um transeunte que passa pelas artérias da metrópole e sob a sombra dos prédios. Os prédios, estáticos, engolem e vomitam pessoas, que fazem filas para serem engolidas e vomitadas. Procuram por emprego.

Alheio aos sentimentos populares, sua caminhada lhe coloca diante de uma construção antiga, com portas antigas, e estão abertas! Na fachada, o dizer, Museu! Porque não? O dia está lindo, e talvez, somente talvez, ver algo antigo ou de caráter histórico ajude a ver uma nova perspectiva do mundo. Você entra!

Ao passar a porta, um recepcionista lhe entrega um catálogo. Uma rápida olhada e nada interessa, ou tudo interessa, já que não tem um objetivo específico, não é mesmo? Como numa loja de departamentos, o museu também os possui. Tudo separado e organizado, para que tanto? Quer apenas caminhar por entre os objetos e quadros. Bastava uma "plaquinha" dando detalhes da obra ou do achado.

Com alguns passos você fica diante de obras abstratas, uma lhe chama a atenção, é tinta jogada contra uma tela, como resultado, "sujeira" essa é sua primeira interpretação "daquilo". Entre os quadro, no meio do pequeno hall, uma escultura de aço, que não diz nada e tão pouco se parece com algo conhecido. Pode ser que esta fosse a intenção. Deste jeito, até você poderia ser artista, certo? Errado, precisa ter fama para tornar um nada em algo com significado, mas é melhor não entrarmos nesta discussão, é cansativa e posteriormente parecerá abstrata e terá que ficar nesta sala.

Algo lhe chama a atenção, uma fita amarela e preta, diante de um dos corredores, bloqueando-o. Seria reforma? Você está só, nem mesmo um segurança está por perto e, talvez, sempre o talvez, demorem para perceber nas câmeras. Já que sua natureza é encontrar respostas, qual seria o problema, possivelmente uma reforma e, se não mexer em nada, nem vão notar que esteve por ali. Você passa por baixo da fita e caminha pelo corredor, pouco iluminado por sinal. O caminho lhe leva a um outro hall, também parcamente iluminado, e vazio! Exceto por uma grande rocha no centro, dando a impressão de que a pedra já estava ali, antes do museu ser construído.

Nenhum quadro, nenhuma inscrição, somente uma luz, sobre a pedra, dando-lhe um ar misterioso. Com cuidado para não tropeçar em algo ou até bater a cabeça em alguma das correntes que pendem do teto, você a circunda. Do lado oposto da pedra, tem uma moldura. Está incrustada na rocha e sem nenhuma pintura, talvez seja isso, ainda vão colocar algo ali. Olhando mais atentamente percebe que onde deveria haver uma obra, ou até mesmo o fundo do quadro, não tem nada. É somente a moldura, você se aproxima, olha mais atentamente. Esfrega os olhos, não tem nada ali além de um negrume estranho, semelhante a um buraco, mas é impossível perceber se é tal.

Lhe parece intrigante e misteriosa, você se afasta e olha em volta, somente uma pergunta: que faz aquela pedra ali, com uma moldura cravada nela? Os olhos percorrem o ambiente, nem um interruptor. Então lembra do celular, basta usá-lo como lanterna. Boa! Não é mesmo? Você o aproxima, e percebe que nenhuma luz penetra "naquilo", retira do bolso o catálogo entregue na entrada e resolve aproximar "daquela" área negra. Ao colocar perto, nota que o papel desaparece parcialmente e ao retirar, a parte que estava no escuro, não volta! 

Com o susto, o celular também passa pela parte escura e como se algo o tivesse cortado, fica pela metade, mas continua funcionando. Não encontra explicação, nem a quer mais, é hora de sair dali, contorna a pedra, mas a entrada não está mais ali. Logo você está novamente na frente da moldura, então algo que só poderia fazer parte de um filme de terror projeta-se para fora, é um braço, esquelético e disforme, com grandes unhas. Então um ombro. 

Posso sentir o seu desespero, seu suor frio e o pavor da clausura. Você abaixa, encolhe-se e tenta fugir da aterradora visão, por fim, fecha os olhos, mas pode perceber que, seja lá o que saiu daquele lugar, agora esta na sua frente. O cheiro fétido e característico de esgoto enche-lhe as narinas, você não tem coragem de abrir os olhos, seu estômago começa a embrulhar e sente que o suor começa a escorrer pelo rosto, o coração está disparado no peito, então...

Então um grito horripilante e grave... 

e você grita também...


Texto e criação do autor J.C.Hesse, especificamente para este blog, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria e a fonte.

2 comentários:

  1. Menino do céu, o que é isso? Como é grande o poder das palavras sobre nós, não é mesmo? Li esse texto no primeiro dia que foi publicado por aqui, adorei, e não comentei (vergonha!)Cá entre nós, haverá alguma sequência desse texto ou ele é um fragmento de alguma obra pronta? É que fiquei curiosa no que vai acontecer depois da última parte, depois do grito horripilante... Meus parabéns, a-mei!

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    1. Nunca sei exatamente onde meus textos irão me levar. A princípio é apenas um fragmento de loucura de escritor, mas nunca se sabe. Obrigado pelo seu comentário.
      J.C.Hesse

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Estou aguardando seu comentário, ele é muito importante, norteia o meu trabalho. J.C.Hesse